O cérebro humano, como “máquina” perfeita que é, cria estratégias fantásticas para lidar com as situações do dia-a-dia da forma mais eficiente. Neste caso, peço que aceite o adjectivo “eficiente” como significando “a arte de fazer o que tem de ser feito com o mínimo de esforço”.
Por exemplo, todas as manhãs, depois de acordar, a maior parte das pessoas faz mais ou menos as mesmas tarefas sem lhes dedicar grande tempo de pensamento consciente.
Frequentemente ouvem-se coisas como “só começo a pensar a partir das X horas”. Isto, sendo obviamente um exagero, serve perfeitamente para ilustrar o facto de que para as tarefas rotineiras pode ser bastante eficiente estar em “piloto automático”.
O que também se constata é que, da mesma forma que somos capazes de mecanizar muitas das tarefas que realizamos recorrentemente, acabamos frequentemente por mecanizar também muitas das nossas atitudes, comportamentos e até emoções. Este processo de mecanização pode levar a duas situações, que se entrecruzam:
1 - Podemos começar a utilizar abordagens ou estratégias estereotipadas em contextos que em nada se assemelham. Chamaremos a este fenómeno “Transcontextualidade Comportamental” ou “como desapertar um parafuso com um martelo”.
2 – Podemos começar a utilizar repetida e automaticamente as mesmas estratégias em situações similares, ainda que não estejamos a obter os resultados que pretendemos. Chamemos a este fenómeno “Reacção” ou “o princípio da insanidade”.
Em relação à transcontextualidade, imagine uma pessoa altamente competitiva com um comportamento geralmente explosivo ou “agressivo” em determinado contexto (por exemplo, em desportos colectivos). Poderá acontecer que essa pessoa utilize frequentemente essa mesma estratégia em contexto laboral ou familiar. E isto é “mau” ou é “bom”? A reposta a esta pergunta dependerá principalmente de qual a INTENÇÃO subjacente ao comportamento e qual o resultado que este está a produzir. Em ambiente familiar a utilização deste tipo de estratégia, muito provavelmente, será menos boa, ao passo que num contexto em que essa pessoa tenha de se defender de uma agressão, um comportamento mais agressivo talvez se revele uma boa estratégia.
Da mesma forma, uma pessoa que revele quase exclusivamente um comportamento mais complacente, grande adepta do “all you need is love”, “come together” (e, quem sabe, outras músicas dos Beatles…) poderá utilizar essa abordagem em muitos e diversos contextos tais como em casa com o(a) amante e/ou filhos, no trabalho com os colegas… ou ao ser alvo de uma agressão de qualquer tipo. Bom ou mau? Mais uma vez, dependerá da situação e da intenção. Estes comportamentos, se utilizados de forma “exagerada”, podem levar esta pessoa a ser pouco eficiente em alturas em que é necessária a resolução de conflitos de interesses quando, provavelmente, um comportamento mais assertivo pudesse ser o mais adequado.
No limite, esta “maneira de estar” poderia levar esta pessoa a ficar a sentir “o amor” e “a conexão quântica” por um ladrão que lhe invadiu a casa, quando provavelmente aquilo que mais lhe serviria nesse contexto seria uma espécie de “assertividade musculada” em dose suficiente para lhe conectar um tacho com a pinha de uma forma mais física e menos quântica :)
Proponho, então, que analisemos a aplicabilidade da variável “intenção”, atrás referida: Esta parece ser a única coisa capaz de fazer a diferença quando decidimos atribuir um valor relativo (“bom” ou “mau”) a cada comportamento, uma vez que, pelos vistos, nenhum comportamento tem valor intrínseco.
A “intenção” é aquilo que desejamos como resultado final de uma interacção num determinado contexto. Assim, se os nossos comportamentos estão a produzir o resultado pretendido, então são "Bons", se não… são "Maus". Muito à frente, hem?
Portanto, esta coisa da “Intenção” é simples, certo?
Vou deixá-lo com esta ideia, e continuar no próximo artigo com mais estratégias eficientes...
Até lá, votos de boas intenções!
Pedro Martins, auditor na area da responsabilidade social, hipnoterapeuta, master practitioner e facilitador de mudança